«All that is necessary for the triumph of evil is that good men do nothing» (Edmund Burke)

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Mais canhões e menos manteiga

Fico espantado quando ouço pessoas inteligentes afirmarem coisas do género "os árabes não sabem o que é a liberdade", ou "estas revoltas são um perigo para a Europa"...

Evidentemente que é mais cómodo para a Europa ter ditadores a zelar pelo seu quintal, tal como os Romanos decadentes do século V preferiam pagar aos Bárbaros para defender as fronteiras. E mais barato, também. Mas não é justo que a nossa prosperidade e conforto assentem na imposição de tiranias abjectas sobre centenas de milhões de seres humanos. Ninguém merece viver sob o jugo de um Khadaffi: e sinto vergonha do Governo do meu País por ter usado o dinheiro dos meus impostos para cortejar um tirano abjecto.


Mas voltando ao tema: em primeiro lugar, não há razões para crer que os países do Magrebe vão resvalar para regimes autoritários hostis. Quem já visitou a Tunísia e Marrocos, por exemplo, sabe que os povos desses países são mais esclarecidos do que se possa pensar à primeira vista. Além de que têm uma profunda ligação ao Ocidente. Não querem viver no Irão, mas sim em França ou na Alemanha.


No fundo, querem apenas ser e viver como nós. Pude constatar isso na cosmopolita Casablanca e na elegante Tunis, mas também em Tozeur, nas portas do Sahara, ou em Ourika, nas montanhas de Marrocos. Os árabes são pessoas como nós, que apenas querem viver as suas vidas em paz e liberdade. Como qualquer ser humano.


Por isso, se uma forma de democracia representativa se consolidar no Magrebe, ainda que com um certo 'tempero' local, não há razões para ter medo. Afinal, nunca houve uma guerra entre duas democracias na era moderna. E se houvesse, eles perdiam.

Até porque mesmo que as coisas dêem para o torto, o argumento dos pessimistas não resiste a uma análise séria: a Europa tem os meios financeiros para se defender a si própria. Continua a ser a maior economia do mundo e a maior parte dos países que a integram têm todas as condições para equiparem as suas forças armadas para proteger a navegação comercial no Mediterrâneo, vigiar as costas europeias e controlarem a imigração ilegal.

Basta que haja vontade política e que seja explicado aos eleitores europeus que é necessário começar a gastar menos dinheiro em manteiga e mais em canhões. Ou em barcos para a guarda costeira. O intervalo para recreio acabou: a História está de volta e os europeus parecem ser os únicos a não compreender isto.

Por fim, nenhum país do Norte de África é uma ameaça invencível, mesmo que caia nas mães de um regime fundamentalista com intenções hostis. A Europa já enfrentou perigos muito piores, ainda esta geração de políticos 'pepsodent' usava cueiros.

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