«All that is necessary for the triumph of evil is that good men do nothing» (Edmund Burke)

sexta-feira, 18 de março de 2011

Geração rasca à rasca

Por motivos que me são alheios, o texto que se segue foi escrito para um jornal on-line e não chegou a ser publicado. Data de inícios de Março. A ler:

Geração rasca à rasca

Em 1994, altura em que se aproximava o meu ingresso no Ensino Superior e em que as políticas educativas eram, já, sobejamente contestadas, os estudantes do secundário e do superior promoveram uma série de manifestações pelo país para tentar alertar para os problemas futuros que dessas políticas poderiam advir. Vicente Jorge Silva, à época director do jornal Público, foi autor de um editorial em que apelidava a minha geração de “Geração Rasca”. Resumindo o texto (que conservo bem recortado nos meus arquivos de textos que adivinho que ainda darão que falar, no futuro), Vicente Jorge Silva achava que não passávamos de uns insurrectos irresponsáveis sem objectivos, para nós e para o país, minimamente definidos.
17 anos passados, essa mesma geração que não teria motivos para ter vindo para as ruas, na visão de Vicente Jorge Silva e de muitos dos que, na altura, o aplaudiram, está a braços com o desemprego e a precariedade laboral, em que as licenciaturas ou especializações de nada valem. Uma geração de biscateiros se houver a sorte de encontrar um biscate. Veja-se, a este exemplo, os Censos 2011, a que milhares de licenciados concorreram para, em curtos 2 meses e com remuneração exígua, fazerem o levantamento da população e da habitação no território nacional. Gostava, sinceramente, de ouvir/ler a actual opinião do ex-director do Público, posterior deputado do Partido Socialista.
A “Geração Rasca” passou, então, agora, a ser a “Geração à Rasca”, nome dado ao movimento gerado no Facebook que organiza uma manifestação nacional já no próximo dia 12 de Março. Esta manifestação, que se pauta pela originalidade de não surgir de qualquer partido político, sindicato, grupo politizado ou afins, convoca todos os “desempregados, quinhentoseuristas e outros mal remunerados, escravos disfarçados, subcontratados, contratados a prazo, falsos trabalhadores independentes, trabalhadores intermitentes, estagiários, bolseiros, trabalhadores-estudantes, estudantes, mães, pais e filhos de Portugal!”. Adivinho, já, por motivos óbvios, uma forte adesão, tal como adivinho, já, por motivos políticos e sociais, a manutenção do statu quo (chamem-me pessimista ou realista, ambos os epítetos me assentam e são, cada vez mais, sinónimos).

PS – Aconselha-se, vivamente, a leitura deste texto ao som da polémica “Parva que Sou”, dos Deolinda. Goste-se ou não (e já muito se leu a favor e contra), a voz de Ana Bacalhau vale sempre a pena ser ouvida.

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