«All that is necessary for the triumph of evil is that good men do nothing» (Edmund Burke)

domingo, 13 de março de 2011

"Não têm pão? Que comam bolos!"

Nos últimos dias, a manifestação da chamada Geração à Rasca foi alvo de críticas ou de até de desprezo por parte de comentadores como José Pacheco Pereira, Miguel Sousa Tavares, João Pereira Coutinho, Constança Cunha e Sá e Maria João Avillez.

A meu ver, isto apenas demonstra como estas luminárias da nossa praça estão desligadas da realidade dos cidadãos comuns e de como são insensíveis às suas dificuldades. Maria Antonieta, com o seu célebre "Não tem pão? Que comam bolos!", não faria melhor.


No entanto, muitos dos seus argumentos são facilmente desmontáveis:

1. "É mais fácil protestar do que inovar". O génio que disse isto deve pensar, do alto do seu delírio, que é fácil criar uma empresa em Portugal. Não só a banca não empresta dinheiro sem garantias - ou seja, não arrisca! - como o chamado 'venture capital' é escasso.

2. "Os jovens que protestam querem apenas as regalias que as gerações mais velhas têm". Esta é, provavelmente, a crítica mais idiota de todas. Porque quem a faz está a reconhecer, mesmo sem o admitir, que em Portugal existem cidadãos de primeira e de segunda. Se os privilégios das gerações mais velhas são excessivos, acabem com eles. Caso contrário, alarguem-nos a toda a população. Ou há justiça ou comem todos!

3. "O Manifesto da Geração à Rasca está mal escrito". Sim, está mal escrito. E então? As pessoas têm menos direitos por causa disso?

4. "Manifestações como esta baseiam-se na demagogia e põem em causa a democracia representativa". Quem diz isto esquece-se que o Povo tem o direito de se manifestar e que a democracia não é coutada dos partidos. E que se o Povo já não se revê nos partidos, talvez seja porque estes têm feito por isso. Porque meteram na gaveta projectos como a criação dos círculos uninominais? Porque reduziram o Parlamento a uma espécie de ajuntamento de 'yes man' cuja única 'virtude' é a lealdade canina aos líderes partidários? Porque procuram transformar a democracia em partidocracia? Além disso, é bom lembrar que se o Povo português já não se revê neste regime, continua a ser democrata até à medula. Este é, de resto, o legado mais positivo do Regime de Abril: os portugueses já não vão em cantigas autoritárias. A democracia não está em causa.

5. "Os jovens são uns malandros que só querem copos e não gostam de trabalhar". Esta acusação não deixa de ser parva, até porque malandros e bêbedos existem em todas as idades. As empresas e a função pública estão repletas de malandros que pertencem à geração destes comentadores e que têm dos tais empregos para a vida! Por outro lado, note-se que muitos dos que ontem se manifestaram trabalham há vários anos de forma precária, muitas vezes em regime de falso recibo verde em instituições do próprio Estado! Apenas querem que o seu trabalho seja reconhecido e devidamente compensado. Isso é ser malandro?

(Texto publicado também no Farpas)

1 comentário:

  1. “Comam bolos”

    Com oito letrinhas apenas
    Escrevo a palavra Portugal
    São oito séculos de historial
    O pior são as últimas cenas

    Da CEE vieram uns milhões
    Chegou a crise internacional
    Onde está o dinheiro afinal?
    Aplicado na terra de Camões

    Em betão e em belas estradas
    Algumas já estão esburacadas
    Pescar e semear é pr’os tolos

    Não há peixe, comam empadas
    Com o chá em vez de torradas
    Se não há trigo, comam bolos.

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