
A meu ver, isto apenas demonstra como estas luminárias da nossa praça estão desligadas da realidade dos cidadãos comuns e de como são insensíveis às suas dificuldades. Maria Antonieta, com o seu célebre "Não tem pão? Que comam bolos!", não faria melhor.
No entanto, muitos dos seus argumentos são facilmente desmontáveis:
1. "É mais fácil protestar do que inovar". O génio que disse isto deve pensar, do alto do seu delírio, que é fácil criar uma empresa em Portugal. Não só a banca não empresta dinheiro sem garantias - ou seja, não arrisca! - como o chamado 'venture capital' é escasso.
2. "Os jovens que protestam querem apenas as regalias que as gerações mais velhas têm". Esta é, provavelmente, a crítica mais idiota de todas. Porque quem a faz está a reconhecer, mesmo sem o admitir, que em Portugal existem cidadãos de primeira e de segunda. Se os privilégios das gerações mais velhas são excessivos, acabem com eles. Caso contrário, alarguem-nos a toda a população. Ou há justiça ou comem todos!
3. "O Manifesto da Geração à Rasca está mal escrito". Sim, está mal escrito. E então? As pessoas têm menos direitos por causa disso?
4. "Manifestações como esta baseiam-se na demagogia e põem em causa a democracia representativa". Quem diz isto esquece-se que o Povo tem o direito de se manifestar e que a democracia não é coutada dos partidos. E que se o Povo já não se revê nos partidos, talvez seja porque estes têm feito por isso. Porque meteram na gaveta projectos como a criação dos círculos uninominais? Porque reduziram o Parlamento a uma espécie de ajuntamento de 'yes man' cuja única 'virtude' é a lealdade canina aos líderes partidários? Porque procuram transformar a democracia em partidocracia? Além disso, é bom lembrar que se o Povo português já não se revê neste regime, continua a ser democrata até à medula. Este é, de resto, o legado mais positivo do Regime de Abril: os portugueses já não vão em cantigas autoritárias. A democracia não está em causa.
5. "Os jovens são uns malandros que só querem copos e não gostam de trabalhar". Esta acusação não deixa de ser parva, até porque malandros e bêbedos existem em todas as idades. As empresas e a função pública estão repletas de malandros que pertencem à geração destes comentadores e que têm dos tais empregos para a vida! Por outro lado, note-se que muitos dos que ontem se manifestaram trabalham há vários anos de forma precária, muitas vezes em regime de falso recibo verde em instituições do próprio Estado! Apenas querem que o seu trabalho seja reconhecido e devidamente compensado. Isso é ser malandro?
(Texto publicado também no Farpas)
“Comam bolos”
ResponderEliminarCom oito letrinhas apenas
Escrevo a palavra Portugal
São oito séculos de historial
O pior são as últimas cenas
Da CEE vieram uns milhões
Chegou a crise internacional
Onde está o dinheiro afinal?
Aplicado na terra de Camões
Em betão e em belas estradas
Algumas já estão esburacadas
Pescar e semear é pr’os tolos
Não há peixe, comam empadas
Com o chá em vez de torradas
Se não há trigo, comam bolos.