“É como se o Coelho da Madeira tivesse ganho as Presidenciais”. Foi o primeiro comentário que ouvi à vitória dos Homens da Luta no Festival da Canção. E parece que chovem interpretações de muitos comentadores sobre o que significa para o estado moral do País ter escolhido o Jel e o Falâncio para irem à Alemanha representar Portugal (Merkel que se cuide).
O Festival da Canção parece um espelho do País, de definhação gradual ano após ano. Ouvindo bem, e não sendo eu um melómano, a música da Luta é má, mas as outras candidatas não eram muito melhores. Aristóteles defendia que a encenação era externa ao enredo das histórias realmente importantes. Era um factor que não poderia ser o essencial de uma obra de arte. E o que se viu foi pouca substância com muitos factores externos à mistura, para ver se se disfarçava a coisa. Músicas más, letras postiças, sempre com um discurso de “mar”, “Descobrimentos”, “infante”. Como se fosse um festival de epopeias e as narrativas das músicas tivessem de passar por grandes feitos passados. Até por isso, mereciam ter mais qualidade para não afrontarem a nossa História.
São discursos vazios e nos quais os intérpretes realmente não acreditam. Hoje ninguém se deita preocupado se o Infante D. Henrique abriu uma escola em Sagres ou não. O vazio do discurso tende a ser compensado pela encenação. E o mesmo se passa na Política. Os discursos são vazios, não são genuínos e são folclore, para não terem de ser incisivos sobre o que realmente importa. O enredo é mau e tenta-se compensar isso com efeitos de cenografia. Com luzes, cenários espectaculares e músicas hollywoodescas a dar também para o épico.
São discursos vazios e nos quais os intérpretes realmente não acreditam. E o pior é que gradualmente o povo também vai deixando de acreditar, pah!!! Assim, não estranha que a inércia e o desleixo tanto no Festival da Canção como na Politica permita “sacrilégios” como os Homens da Luta ou o Coelho da Madeira, conseguidos por uma narrativa que satiriza os discursos postiços e sem substância. É assim o Povo, pah!.
"São discursos vazios e nos quais os intérpretes realmente não acreditam."
ResponderEliminarOra aí está camarada! Praticamente todas as músicas foram marcadas por um pseudo-patriotismo que felizmente não lhes serviu de muito este ano.
Quer gostemos quer não, os Homens da Luta foram aqui a voz do povo. E penso que é preciso salientar que lutam (e deveríamos todos lutar) contra a resignação, o conformismo, o deixa andar.
É da atitude de um povo que se faz um país.
E VIVA A LUTA!
Não sei bem se são a voz do povo, acho que fazem mais isso para ganhar a vida.Mas o que importa é tentar perceber se essa vitória tem algum significado especial ou não.
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