
Dos meus colegas de curso, vários preferiram permanecer no desemprego a terem de fazer o sacrifício de migrarem para Lisboa para ganharem “uns míseros 700 euros”. Ainda hoje, seis anos volvidos após o fim do curso, ouço comentários do género “tu é que tiveste sorte”. Esquecem-se dos sacrifícios que tive de fazer: deixei a minha terra, a família e os amigos para vir para Lisboa trabalhar 12 horas por dia em troca de 397 euros por mês. A esses respondo que "a sorte constrói-se".
Sim, a “geração à rasca” tem muitos defeitos.
Mas a “geração à rasca” tem razão em dois aspectos da mais elementar justiça: o primeiro é que as leis laborais protegem em demasia os mais velhos em detrimento dos mais novos. Há jovens que trabalham o dobro dos trabalhadores mais antigos e que auferem salários miseráveis, por vezes ocupando cargos de responsabilidade. Isso não é justo e nunca é demais dizê-lo.
O segundo ponto é que foi a geração mais velha que conduziu a economia portuguesa a esta situação lastimável, hipotecando o futuro dos seus filhos e netos. E admitindo que possa existir alguma responsabilização colectiva, a verdade é que os maiores culpados são quem teve poder para decidir nos últimos quize anos: a elite política e empresarial portuguesa, que com frequência partilha a mesma cama.
Por esta razão, os gestores e políticos que atiram farpas à "geração à rasca" deviam antes levar a mão direita ao peito e pronunciar um 'mea culpa' pelo triste estado a que conduziram este País.
(Texto publicado também no Farpas)
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