«All that is necessary for the triumph of evil is that good men do nothing» (Edmund Burke)

quarta-feira, 9 de março de 2011

De quem é a culpa?

Não partilho do ponto de vista dos meus colegas 'bloggers' do Reviralho, a respeito do discurso de Cavaco Silva. O Presidente fez o seu papel: falou a verdade. E a culpa do estado em que nos encontrámos não é de Cavaco, que, se bem me lembro, quando liderou o Governo criou condições para que a economia crescesse. Não foi apenas sorte e fundos comunitários, como já ouvi dizer...

Claro que Cavaco não é nenhum santo e cometeu erros, a começar por certos amigos que escolheu. Além disso, não corrigiu problemas estruturais de que a economia portuguesa padecia e criou outros que ainda hoje persistem.

Porém, mais grave que qualquer problema deixado pelo Cavaquismo foi a desaceração do crescimento da economia portuguesa que teve início a partir de 1998, em consequência da falta de medidas que garantissem a competitividade nacional no quadro da pertença à moeda única; de facto, a maior parte dos problemas actuais têm a sua origem na incapacidade de a nossa economia crescer.

E isso, por muito que custe aos críticos de Cavaco e de tudo aquilo que ele representa, não é culpa do economista de Boliqueime, mas sim de Guterres, Barroso, Santana e Sócrates (*). Diria mesmo que este último tem mais culpas que os outros três juntos. Foi nos seus seis anos de governo que a dívida pública disparou para níveis só comparáveis aos dos últimos anos da Monarquia. Foi também Sócrates que desperdiçou a oportunidade única para realizar as reformas estruturais necessárias que lhe foi possibilitada pela maioria absoluta e por um longo estado de graça.

Além disso, em vez de estimular uma concorrência sadia e assente na inovação, o primeiro-ministro apoiou determinadas empresas em detrimento de outras. Aumentou ainda mais a dependência dos empresários em relação ao Poder (como se isso fosse possível!). Negociou contratos com tiranos de quatro continentes, que no fim de contas só serviram para financiar momentaneamente empresas que de outra forma não conseguiriam competir no plano internacional.

Engordou a máquina oficial e não oficial do Estado... e por aí fora. O resultado está à vista e só um cego acredita na desculpa de que a culpa é da "crise internacional". Há um padrão curioso: a culpa é de toda a gente, excepto de quem governa Portugal há seis anos, cinco dos quais com maioria absoluta.

Depois de tanta propaganda, que legado deixa Sócrates? Um país arruinado, a maioria das empresas aflitas, milhares de cidadãos a passar necessidades e milhões de jovens sem esperança... Sei que tinha apenas 16 anos em 1995, mas lembro-me bem do legado que Cavaco deixou.






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(*) - Sobre o legado económico do Cavaquismo, recomendo a leitura deste excelente post do Quarto da República, que desmistifica por completo muitos dos lugares comuns que se ouvem sobre o alegado papel de Cavaco na criação do 'Monstro'.

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