«All that is necessary for the triumph of evil is that good men do nothing» (Edmund Burke)

sexta-feira, 11 de março de 2011

Geração à rasca....

Amanhã é o dia da manifestação da Geração à Rasca. A minha geração.

Pertenço à geração que encontrou um mundo cheio de virtudes e perversidades. O meu pai sempre me disse, durante a minha infância e adolescência, que tinha a obrigação de me dar um curso superior, carta de condução e primeiro carro. As condições que ele dizia serem necessárias para eu ganhar a minha independência. O meu pai enganou-se e enganou-me. O que ele não sabia, é que o mais importante para a minha independência foram os valores que ele, a minha mãe e os meus avós me deram durante os anos da minha juventude.

Os meus pais têm memórias bem vivas das dezenas de anos em que viveram em ditadura, tal como os meus avós, que a isso somam as provações que tiveram que viver durante a segunda Guerra Mundial e a guerra colonial. Felizmente bebi todas essas aprendizagens. Graças a eles, não dou nada por adquirido. Trabalho todos os dias sem viver perante os louros de bons trabalhos do passado.

Sou da geração à rasca, uma geração privilegiada em muitos aspectos. Brinquei na rua, numa altura em que o podia fazer sem medo de doenças ou criminosos. Brinquei em casa e apanhei o advento da Internet e dos ‘gadgets’. Sou da geração em que pais da classe média, média baixa e mesmo baixa conseguiram proporcionar, pela primeira vez, educação superior aos seus filhos. Sou da geração em que aconteceu o ‘boom’ de primeiros licenciados na família.

E o que aconteceu a esta geração? Está à rasca. Está à rasca por várias razões. Está neste estado por culpa de outras gerações, as que dominam o País há décadas. Está neste estado por causa de dinastias, sim, porque há famílias que perpetuam no poder os seus descendentes há vários séculos. E está neste estado por causa das políticas destes anos. Proteccionismo para uns, precariedade para os outros. Uns vivem dos direitos adquiridos e esquecem os deveres. Outros só têm deveres e não conseguem conquistar direitos. Concordo com muito do que o movimento geração à rasca defende. Com quase tudo. Mas não posso deixar pensar que é também necessário fazer uma análise à culpa da nossa geração....

Uma geração em que muitos, é verdade, pensavam que bastava um curso para trabalhar. Melhor, para arranjar o emprego. Em que outros, os que não conseguem (ou não procuram) oportunidades, acabam por criticar ou desvalorizar os que as conseguiram. Uma geração em que após acabar o curso, muitos se recusam a mudar de cidade para procurar as ditas oportunidades. Uma geração que não percebe que o mercado é global e que é preciso ir atrás das oportunidades. Uma geração que, se calhar, deve pedir explicações à geração dos seus pais, aquela que os educou e que muitas vezes se esqueceu que mais importante do que um curso são os valores. Na geração em que não há almoços grátis, não podemos desistir de lutar por aquilo que queremos.

O que mais espero desta geração, além de se afirmar como uma solução para salvar este País, é que não se esqueça de passar os valores que herdou às gerações futuras...

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